Como ensinar seu paciente a treinar a contração do assoalho pélvico em casa

29/01/2021   POR MIOTEC - CONECTANDO TECNOLOGIA AO MOVIMENTO HUMANO

O assoalho pélvico funciona como uma rede de sustentação dos órgãos localizados na cavidade pélvica, como a bexiga, reto, próstata, útero e ovários. Ele é formado por 13 músculos que ficam entre o osso púbis e o cóccix, responsáveis pela continência urinária e fecal, bem como pela qualidade nas relações sexuais. Por isso, a prática de exercícios para fortalecer o períneo e a musculatura da região é fundamental para a manutenção dessas funções.

Nesse sentido, uma das principais preocupações dos fisioterapeutas diz respeito a como ensinar e identificar o tipo de exercício que pode recomendar para o paciente realizar sozinho em casa ou mesmo em acompanhamentos a distância, como nos casos de teleatendimento.

Para ajudar em relação a essas dúvidas, selecionamos algumas das melhores práticas para ensinar o paciente a treinar a contração da musculatura do assoalho pélvico para fortalecer o períneo, com exercícios que podem ser feitos em casa, de maneira simples e eficaz.

Exercícios Kegel

Os exercícios Kegel consistem na contração e descontração das musculaturas do assoalho pélvico com o objetivo de restaurar o tônus muscular e a força do músculo de modo a prevenir ou reduzir disfunções do assoalho pélvico, bem como melhorar a prática da atividade sexual.

Esses exercícios foram detalhados pela primeira vez pelo médico Arnold Kegel em 1948, um ginecologista que os inventou para corrigir a fraqueza vaginal sem cirurgia. Embora originalmente pensados para as mulheres, os exercícios de Kegel também podem ser praticados por homens, ajudando até mesmo a prevenir a disfunção erétil.

A prática do método Kegel

Os exercícios Kegel devem ser realizados com a bexiga vazia, adotando uma posição confortável, sentada ou deitada, de acordo com o tipo de contratura necessário. As contrações são feitas por 5 segundos, mantendo os músculos contraídos e em seguida relaxando-os por 10 segundos, efetuando repetições dessa sequência.

Essas contrações podem ser lentas, rápidas ou avançadas. Para obter os efeitos desejados é preciso fazer 10 repetições dos movimentos, três vezes ao dia (manhã, tarde e noite). Veja, a seguir, como fazer os exercícios

Contrações lentas  

  • sentar-se em uma cadeira, com os joelhos a 90°;
  • apoiar as mãos em cima da barriga;
  • contrair o ânus e a vagina, ao mesmo tempo, de 5 a 10 segundos, respirando normalmente;
  • relaxar pelo mesmo tempo utilizado no passo anterior.

Contrações rápidas

  • sentar-se em uma cadeira, com os joelhos a 90°
  • contrair o ânus e a vagina simultaneamente e relaxar logo em seguida em um movimento de “contrair e soltar”;
  • relaxar por 3 a 5 segundos entre as contrações.

Esse tipo de contração pode ser indicado para o paciente utilizar no dia a dia todas as vezes em que a pessoa espirrar, tossir, pegar um peso na musculação ou agachar. Isso ajuda a prevenir a incontinência urinária provocada por esforço.

Contrações avançadas

Para aumentar a dificuldade dos exercícios, a orientação é realizá-los na posição em pé.

Exercícios com cone vaginal

Cones vaginais são pequenas cápsulas de formato anatômico e com um determinado peso. Ao serem inseridos na vagina produzem o estímulo necessário para que a mulher contraia corretamente a musculatura do assoalho pélvico.

É importante definir o peso indicado a cada paciente. Em média o cone ideal é aquele que, sob contração intensa, pode ser segurado de 2 a 8 segundos e com a vagina relaxada.

A intensidade dos exercícios varia de acordo com os objetivos da fisioterapia pélvica, lembrando que os exercícios com cone vaginal sempre objetivam o ganho de força e, portanto, deve ser utilizado nessa situação.

A prática do exercício com os cones

O cone é introduzido na vagina, como um absorvente interno, e a paciente realiza exercícios de contração e relaxamento da musculatura pélvica, mantendo-o preso.

A utilização do dispositivo pode ser feita em casa, durante as atividades de rotina, como lavar louça, caminhar, subir escadas, trabalhar, entre outras. Caso perceba que o dispositivo está caindo, a pessoa deve realizar uma contração do assoalho pélvico a fim de sustentá-lo. Essa movimentação deve durar, no máximo, 20 minutos.

Com a evolução da prática dos exercícios, os cones podem substituídos por outros de maior peso para que a paciente exerça mais força quando evitar que o dispositivo caia.

Exercícios com o acessório Bem-wá

De origem indiana, o Bem-wá, também conhecido como bolas tailandesas, é um dos acessórios mais indicados para as pessoas que já estão familiarizadas com o pompoarismo, já que, nesses casos, a musculatura se encontra previamente fortalecida e a pessoa adquiriu um maior conhecimento do próprio corpo.

Milenar, a arte do pompoarismo tem origem no tantrismo. O verbo pompoar significa contrair e a técnica consiste na contração voluntária dos músculos pélvicos. No Brasil, ganhou mais evidência a partir da década de 70, mas ainda de forma muito restrita. 

Conhecido por aumentar e melhorar o prazer sexual, o pompoarismo também permite exercitar os músculos do assoalho pélvico e obter outros benefícios, como:

  • aumentar a lubrificação íntima;
  • auxiliar nas contrações do parto e na recuperação do tônus vaginal após o nascimento do bebê;
  • controlar o vaginismo;
  • diminuir a flacidez vaginal;
  • evitar e corrigir a incontinência fecal e urinária;
  • impedir a queda da bexiga;
  • melhorar a irrigação sanguínea da região pélvica;
  • melhorar o funcionamento do intestino;
  • prevenir miomas uterinos;
  • reduzir sintomas da menopausa;
  • regularizar o ciclo e o fluxo menstrual;
  • resolver casos de anorgasmia;
  • solucionar problemas com cólicas menstruais;
  • tratar a dispareunia (dores durante o sexo).

O Bem-wá é composto por bolinhas que medem aproximadamente 5 centímetros, normalmente feitas em silicone, interligadas por um cordão do mesmo material. Os exercícios devem ser realizados da seguinte maneira:

  • introduzir uma das bolinhas na vagina e, com a força muscular da região pélvica, “sugar” as demais, deixando a corda de segurança para fora;
  • contrair fortemente a musculatura do assoalho pélvico, mantendo por 2 segundos;
  • com movimentos de contração e relaxamento, expulsar as bolinhas;
  • relaxar e descansar por 8 segundos.

Essa sequência de exercícios deve ser repetida por 10 vezes consecutivas. O tempo de contração deve ser ampliado de acordo com o desempenho do paciente. Os exercícios devem ser realizados tanto com as pernas afastadas quanto juntas.

Ginástica Hipopressiva (GAH)

A Ginástica Hipopressiva (GAH) foi criada na década de 1950 pelo pesquisador belga Marcel Caufriez e combina exercícios da musculatura abdominal, da musculatura do assoalho pélvico e da musculatura peitoral. A técnica surgiu como uma alternativa para conseguir a tonificação dos músculos abdominais de mulheres no pós-parto.

Com o uso dela conseguimos reduzir a pressão intra-abdominal e fortalecer os músculos internos do abdômen ao mesmo tempo. O períneo também fica mais forte com a prática.

A hipopressiva na prática

Os exercícios que envolvem a ginástica hipopressiva são realizados nas diferentes posições, como deitada, sentada e em pé, de acordo com a evolução da aprendizagem dos movimentos de respiração toráxica. Basicamente, eles são realizados da seguinte maneira:

  • utilizando a respiração toráxica, inspirar lentamente;
  • expirar em 4 segundos, cuidando para não jogar o abdômen para frente;
  • repetir mais uma vez a inspiração e expiração da mesma forma;
  • após soltar todo ar, “sugar” os órgãos internos imaginando-os subindo em um elevador, contraindo simultaneamente a vagina, o ânus;
  • segurar a contração por até 10 segundos inicialmente, podendo evoluir com o tempo de acordo com a capacidade individual;
  • soltar lentamente, evitando projetar a barriga para frente.
  • repetir todos os movimentos por três vezes.

Esses movimentos devem sempre ser acompanhados de cuidados com a postura, mantendo a coluna alinhada e utilizando as mãos (apoiadas nas pernas, na parede ou no chão) e os pés como apoios de força e impulsionamento nas contrações.   

Exercícios com educadores vaginais

Tendo o conhecimento de como a musculatura pélvica se comporta durante uma contração, é possível que a paciente utilize instrumentos “educadores” que tragam essa informação da contração de forma que fique ao alcance dos olhos, de maneira simples.

Exemplo disso é a PelviFit Trainer, uma sonda vaginal desenvolvida com o objetivo de fornecer aos pacientes e fisioterapeutas uma maneira rápida e prática de observar as contrações da musculatura do assoalho pélvico. Isso porque o acessório se torna um educador vaginal, já que possibilita a execução de diversos exercícios, fazendo com que os pacientes ganhem consciência da contração correta da musculatura.

Com design anatômico e de fácil posicionamento no corpo, ela possibilita a realização de exercícios, proporcionando melhoras significativas por meio do tratamento das principais disfunções do assoalho pélvico.

Para efetuar os exercícios, o dispositivo deve ser inserido na vagina, de forma que a antena fique visível para o paciente e/ou profissional. Quando a contração é realizada de forma correta ela se movimenta para baixo. Quando a contratura é realizada de maneira errada, a antena se desloca para cima.

Exercícios com sondas de pressão (Biofeedback Manométrico)

As sondas de Biofeedback Pressórico permitem acompanhar o exercício feito pela musculatura por meio de um manômetro. A utilização é simples: o sistema é constituído por sondas manométricas (vaginal ou anal), mangueira para condução de ar e manômetro analógico. Basta realizar a introdução da sonda no paciente e utilizar o manômetro como Biofeedback da contração realizada. Esse feedback pode ser dado tanto para o paciente como para o profissional de saúde, podendo ser utilizado em clínicas ou fornecido ao paciente para exercícios em casa.

Um bom exemplo disso é o dispositivo de Biofeedback manométrico PelviAir Unit, utilizado nos exercícios de fortalecimento ou relaxamento do assoalho pélvico, de acordo com a orientação do profissional. A sonda é utilizada da seguinte forma:

  • introduzir a sonda;
  • inflar a sonda até que o paciente sinta o contato contra a parede vaginal ou anal;
  • realizar a monitoração pelo paciente e profissional quanto à intensidade e tempo da contração/relaxamento.

Exercícios com sensores de eletromiografia (Biofeedback Eletromiográfico)

Sensores de eletromiografia de superfície captam a atividade elétrica dos músculos em microvolts. A técnica utiliza eletrodos ou sondas vaginais e anais que permitem monitorar de forma mais efetiva a atividade muscular do assoalho pélvico e identificar a capacidade máxima de contração, além do tempo de resposta do músculo e o tempo de contração.

Um profissional poderá auxiliar o paciente a realizar exercícios de contração muscular que ajudarão a desenvolver maior controle da bexiga e a fortalecer os músculos do assoalho pélvico. Entre as vantagens do Biofeedback Eletromiográfico está a capacidade de conseguir isolar os músculos adjacentes, ou seja, ele permite treinar apenas os músculos da região.

A utilização de Biofeedback é bastante positiva na reeducação e tratamento das disfunções do assoalho pélvico. Veja aqui um vídeo da doutora Adriane Bertotto, fisioterapeuta pélvica, falando sobre a utilização das tecnologias de eletromiografia e Biofeedback.

Exercícios para homens

Homens e mulheres apresentam os mesmos músculos no assoalho pélvico, portanto, os exercícios também devem ser praticados por eles. Uma das formas mais simples é a prática dos exercícios Kegel para fortalecer os músculos da região. O método mais praticado pelos homens é o ato de iniciar e parar, com força, o fluxo de urina quando for urinar. Essa prática permite controlar os músculos do pênis de forma voluntária.

O urologista Dr. Andrew Siegel é o criador do método Private Gym, em que sugere a colocação de pequenos pesos ao redor da base do pênis que permitirão treinar a resistência e o controle dos músculos da região. Quando o homem realiza exercícios para o fortalecimento desses músculos, pode alcançar melhoras no controle da incontinência urinária, da ejaculação precoce e da disfunção erétil.

Como vimos, há diversos tipos de exercícios para fortalecer o períneo e o assoalho pélvico que podem ser feitos em casa. Para isso, o fisioterapeuta precisa ensinar o paciente a identificar os músculos envolvidos nos movimentos por meio de aparelhos de biofeedback domiciliar e eleger o tipo de terapia mais adequada a cada indivíduo.

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