a fisioterapia neurofuncional na sala de cirurgia

Cases de Sucesso: Leonardo Rodrigues, a fisioterapia neurofuncional na sala de cirurgia

03/03/2022   POR MIOTEC - CONECTANDO TECNOLOGIA AO MOVIMENTO HUMANO

Veja como Leonardo Rodrigues quebrou as barreiras do consultório e hoje atua com a fisioterapia neurofuncional, em um time multidisciplinar dedicado a superar os desafios da espasticidade

Que a fisioterapia é essencial para a reabilitação física e a recuperação de funções motoras, isso muitos sabem. Mas poucos imaginam uma aplicação direta dos conhecimentos e da atuação de um profissional da área quando se fala em cirurgias complexas e delicadas, e nos preparativos antes e depois de cada uma.

Para o Dr. Leonardo Rodrigues, especialista profissional em fisioterapia neurofuncional pela Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN/COFFITO), essa é a rotina normal do seu trabalho, realizado junto a uma equipe multidisciplinar e composta também por terapeutas ocupacionais, médicos e diversos outros profissionais e acadêmicos que atuam no Ambulatório de Espasticidade, em Teresina, no Piauí.

Segundo Leonardo, esta interação multidisciplinar, aliando-se a prática clínica às evidências científicas e à expertise das diferentes formações profissionais, é o principal aspecto dos processos que  vivencia no tratamento de pacientes com espasticidade. “É uma equipe bastante específica, onde temos também o neurocirurgião pediátrico e funcional Dr. Francisco Alencar, responsável pelos procedimentos médicos; a fisioterapeuta neurofuncional na criança e adolescente Ana Patrícia Petillo, o médico neurofisiologista Dr. Josione Rêgo e a terapeuta ocupacional Dra. Leylane Rilzer”, explica. O trabalho conta ainda com profissionais de enfermagem e ortopedistas especializados em membros superiores e inferiores. 

Com 15 anos de experiência, ele integrou por 12 anos a equipe do Centro Integrado de Reabilitação (CEIR), é professor efetivo da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), atua no Instituto Rizo Movement e é responsável técnico pelo Espaço Neurofuncional, sempre em conjunto com outros especialistas, de forma a compor um quadro de profissionais para o tratamento completo de cada paciente. “Fazemos esse trabalho tanto para o público privado quanto para o SUS, para pacientes que não tem condições. A ideia é tratar a todos sem distinção”, declara o fisioterapeuta.

Fisioterapia Neurofuncional: atuação em equipe

Toda essa frente de especialistas, atuando de maneira coordenada, é necessária para lidarem com um desafio bastante específico: o tratamento da espasticidade, uma condição que provoca o endurecimento progressivo da musculatura.

A espasticidade acomete pacientes de todas as idades. Em adultos, acontece em diferentes casos de doenças e acidentes - como os que sofreram um AVC, por exemplo, e pessoas que sofrem lesões na medula. “Existem várias situações em que o paciente apresenta esse sinal clínico da espasticidade, e ela é realmente deletéria a curto, médio e longo prazo”, completa.

Mas é nas crianças onde está o foco principal do trabalho de Leonardo. “Quando você vê crianças com paralisia cerebral, braços dobrados e pernas cruzadas, aquilo é um sinal de complicação causada pela espasticidade. Os músculos vão endurecendo, a partir do  primeiro  ano de vida da criança, e esse endurecimento impede o desenvolvimento do sistema motor como um todo”, revela.

“Um dos maiores agravantes é que a criança vai crescendo, os ossos crescem, mas como o músculo é endurecido, ele não acompanha este desenvolvimento”, conta. “Aí é que surgem as deformidades, ela vai “enrolando” em um movimento de torção para compensar o crescimento ósseo”, define.

Para lidar com a espasticidade, a equipe recorre a cirurgias, e o grande desafio de Leonardo, assim como o de todos os que lidam com essa enfermidade, é conseguir avaliar e mensurar de forma clara a progressão e a intensidade do endurecimento muscular, bem como os resultados obtidos com as opções terapêuticas implementadas.

Saindo da Subjetividade

Em busca de alternativas e informações, Leonardo Rodrigues interessou-se por ampliar seu leque de recursos para compreender a fundo a verdadeira condição de seus pacientes.

Foi aí que ele descobriu a Eletromiografia de Superfície - EMG como uma alternativa funcional e de custo acessível para obter dados mais claros, encontrando nela uma tecnologia viável para que ele e a equipe possam guiar-se o máximo possível por informações sólidas e concretas ou, em suas palavras, para que possam “sair da subjetividade” e buscar dados científicos para embasar as decisões da equipe.

“Em meus anos de experiência, sempre vi o eletromiógrafo sendo usado na área do esporte, em problemas ortopédicos e, recentemente, tem sido bastante explorado na parte uroginecológica também”, conta. “Mas dentro dessa área dos distúrbios neurológicos, e em especial na espasticidade, ainda é extremamente escasso e pouco explorado, para não dizer que não há, de fato, uma atuação direta nessa especialidade”, avalia.

A eletromiografia como aliada

Em seu trabalho, Rodrigues acaba por utilizar a eletromiografia em diferentes momentos e por diferentes razões. No processo de tratamento e nas cirurgias, conta, o neurocirurgião tem a necessidade de mensurar quais os resultados dos procedimentos implementados, tanto os cirúrgicos quanto outros - como a aplicação da toxina botulínica, utilizada para relaxamento da musculatura, favorecendo a reabilitação. “Não se trata de apenas injetar medicações e realizar procedimentos, mas de ter condições de discutir quando fazer, como fazer, e qual deve ser o procedimento”, conclui.

Dentro da neurocirurgia em si, o fisioterapeuta neurofuncional também tem sido um dos aliados nas salas de operação. Segundo ele, o procedimento mais nobre para esse tipo de tratamento é a cirurgia de Rizotomia Dorsal Seletiva, na qual o neurocirurgião corta um percentual das raízes nervosas localizadas na coluna, de forma previamente planejada, a partir de testes realizados.

Nesse procedimento, o paciente está sedado, mas os músculos permanecem ativos para realização da monitorização multimodal, que consiste na avaliação das respostas ao estímulo elétrico, e na qual o médico neurofisiologista realiza a monitorização neurofisiológica e o fisioterapeuta neurofuncional acompanha a resposta de contração muscular comportamental. “Eu, como fisioterapeuta neurofuncional, tomando com base trabalhos internacionais e aperfeiçoamentos, atuo no Centro Cirúrgico, participando diretamente na análise dos movimentos, para ajudar o neurocirurgião na identificação e corte destes nervos mais patológicos, relacionando-os com os grupos musculares mais espásticos e promovendo uma conexão com quadro funcional que impacta diretamente nas atividades e participação desses indivíduos”, revela.

Neste momento, o fisioterapeuta neurofuncional tem uma atuação extremamente importante no processo, pois é ele quem realiza a quantificação da espasticidade e funcionalidade para o planejamento, de forma prévia, do percentual de secção desses nervos. “Foi aí que eu passei a usar não só instrumentos subjetivos e manuais como também a eletromiografia”, conta.

Diagnósticos e avaliações

Outra frente essencial para o trabalho que desenvolve na fisioterapia neurofuncional é a avaliação pré-operatória e pós-operatória do paciente. Enquanto a eletroneuromiografia exige equipamentos muito caros e funciona através da inserção de agulhas - um procedimento invasivo e que pode provocar dor - na EMGs ele tem a liberdade de utilizar eletrodos externos, que não provocam dor e permitem acessar o paciente consciente, obtendo uma fonte a mais de informação e dados, além de viabilizar um exame menos invasivo para os pacientes pediátricos.

“O fisioterapeuta neurofuncional tem a expertise de análise de movimento e funcionalidade dedicada a esse campo, então temos mostrado, através de trabalhos e experiência, a necessidade cada vez maior de ter o fisioterapeuta inserido nesse contexto multidisciplinar de reabilitação centrado no paciente e família,  desde a avaliação, planejamento e execução   pré, intra e pós-operatório”, avalia.

Em suas atividades, Leonardo Rodrigues utiliza os equipamentos de Eletromiografia da Miotec, como o Miotool. Segundo ele, a vantagem destes aparelhos é a de fornecer respostas claras e precisas sobre diferentes variáveis, como a intensidade do sinal eletromiográfico em repouso, picos e vales, e o sinal RMS. “Com eles consigo realizar o mapeamento pré-operatório dos músculos que estão mais endurecidos e relacionar com os nervos que têm que ser cortados no ato cirúrgico em si”, explica.

Próximos passos

Agora, o foco de Rodrigues está na difusão dos conhecimentos que conquistou, com planos para a realização de cursos e, também, na consolidação de toda essa expertise. Como docente responsável pelos programas multidisciplinares de ensino e cursos de aperfeiçoamento do Instituto Rizo Movement, o pioneirismo no trabalho de Leonardo, através da atuação da fisioterapia neurofuncional intra-operatória, no uso da eletromiografia para o procedimento de Rizotomia Dorsal Seletiva e outras ferramentas tecnológicas, associadas a protocolos científicos multidisciplinares para o tratamento do paciente com espasticidade, têm permitido conquistar cada vez mais a comunidade profissional e científica sobre o assunto. “Quando falamos de espasticidade, a literatura de um modo geral é muito controversa com relação a mensurar esse endurecimento”, diz. 

“De uma forma geral, já existem protocolos na China e alguns grupos que tentam usar a eletromiografia para mensurar a espasticidade, mas ainda não existe um protocolo estabelecido…e na prática clínica precisa aperfeiçoar ainda mais”, explica.

Em sua dissertação de mestrado, defendida em  outubro de  2020 pelo Programa de Pós-Graduação Profissional em Biotecnologia em Saúde Humana e Animal (PPGBiotec) da  Universidade Estadual do Ceará, em parceria com a Universidade Estadual do Piauí, orientado pelo Prof. Dr. Antônio Luiz Martins Maia Filho com colaboração do docente da Uespi Prof. Dr. Kelson Nonato Gomes da Silva, o fisioterapeuta neurofuncional defendeu o uso da EMGs como instrumento de avaliação neurofuncional inovador em pacientes com espasticidade submetidos à RDS. “Defendi no meu mestrado que essa mensuração também seja feita por instrumento tecnológico aplicado na prática clínica, que permita ao fisioterapeuta a mensuração do mecanismo de ação do procedimento cirúrgico através de uma análise objetiva e quantitativa, e não somente de forma subjetiva e qualitativa através de testes manuais”, conta.

Sua dissertação e o trabalho multidisciplinar realizado em centro cirúrgico,  foram apresentados no VI Congresso Brasileiro de Fisioterapia Neurofuncional / II Congresso Internacional da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional / I Simpósio Internacional em Saúde Funcional, realizado em Setembro de 2021. “Foram  trabalhos selecionados pela relevância. A proposta foi mostrar uma nova perspectiva, de atuação e uso, com um protocolo que envolva o eletromiógrafo, de mostrar que o profissional fisioterapeuta neurofuncional pode atuar junto à equipe, focando nas neurocirurgias pediátricas e funcionais, um nicho bastante complexo”, avalia.

“Já com o Miotool, passei a mostrar que temos, sim, como pegar um equipamento existente no mercado e introduzi-lo num contexto diferenciado”, revela Leonardo. “Consigo, através dele, fazer a mensuração de resultados de forma mais quantitativa”, conclui o profissional.





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