Como funciona a eletromiografia

Como funciona a eletromiografia? Sinais elétricos e interferências

12/04/2021   POR MIOTEC - CONECTANDO TECNOLOGIA AO MOVIMENTO HUMANO

Saiba como funciona a eletromiografia, os músculos e como as interferências se relacionam nos tratamentos fisioterápicos

Por Fabiano Ergoni, Diretor-Executivo da Miotec

Como funciona a eletromiografia? Para responder plenamente a esta questão, precisamos voltar no entendimento do corpo humano, que é realmente surpreendente! Alguns dos sinais já são conhecidos da maioria da população - como sinais que vêm dos batimentos cardíacos ou das ondas cerebrais, popularizados em programas de ciências.

Também temos eletricidade proveniente dos músculos, uma característica mais popularmente conhecida como “atividade mioelétrica”. É a partir destes sinais que tudo funciona.

Para compreender melhor como funciona a eletromiografia, podemos fazer uma analogia com o nosso dia-a-dia, em que para quase tudo que utilizamos precisamos de energia – como o celular, computador ou tablet onde você lê este artigo, por exemplo. Pois bem, em relação à musculatura, não é nada diferente.

Nossa rede elétrica provê 110 Volts ou 220 Volts, dependendo da região, sempre em uma frequência de 60HZ. E não é que os músculos também têm uma voltagem e uma frequência própria? Pois então, utilizando este incrível fenômeno, e através dessas observações, podemos direcionar diversas pesquisas e tratamentos.

A evolução da tecnologia

Mas como funciona a eletromiografia na prática? Utilizando sensores capazes de ler os sinais musculares. Se anos atrás parecia impossível quantificar sinais musculares, hoje isso é uma realidade, que nos permite direcionar tratamentos de forma mais efetiva.

Por trás dessas possibilidades estão os sensores de alta precisão, que são responsáveis por coletar analogicamente sinais na ordem de “microVolts”, ou seja, um milhão de vezes menores que a tensão de uma pilha comum. Isto não é um trabalho fácil: eles precisam captar o sinal e ainda filtrar os “ruídos” e “artefatos mecânicos” que estejam fora da abrangência de disparo das fibras musculares, que se localizam entre 20Hz e 500Hz, além de amplificar este sinal, nos fornecendo visualmente alguma informação útil.

Os músculos, mesmo quando estão relaxados, possuem um “tônus de base”, que também pode ser captado pelos sensores. Ou seja, essa maravilha de tecnologia permite acompanhar tanto as zonas de relaxamento quanto as zonas de contração muscular. Não é incrível?

Para cada corpo, um sinal

Todavia, em comparação a energia elétrica que encontramos em nossas tomadas, nossos músculos seguem regras próprias, que variam de indivíduo para indivíduo. Quando se fala em atividade elétrica muscular, por mais preciso que seja o sensor de captação, não podemos falar em padrões normativos.

Afinal, para cada leitura, existem muitas variáveis de medição como o posicionamento dos sensores na pele, a qualidade dos eletrodos de captação, a fixação dos cabos, o ambiente de coleta, a impedância da pele, dentre outros. O importante é que ao tomarmos os devidos cuidados antes de iniciar uma coleta do sinal mioelétrico, o que se tem em mãos é uma poderosa ferramenta de análise.

Hoje eu me pergunto, como chegaríamos a diagnósticos precisos do coração se não tivéssemos sensores de eletrocardiograma? Não seria a mesma coisa, no que tange sensores que medem a atividade mioelétrica, visto que os mesmos nos permitem identificar tipos de fibras musculares, fadiga muscular, isolar musculaturas (quando não se deseja que a mesma faça parte de determinado movimento), dentre outras aplicabilidades?

A tecnologia é uma perfeita aliada da ciência, e saber que existe um universo de possibilidades nos faz não só sonhar, mas idealizar o bem-estar que pode ser trazido para a humanidade através da informação que é produzida por nosso próprio corpo.

Como funciona a eletromiografia: as interferências

Se tem uma pergunta que respondemos todos os dias é sobre a interferência no exame de eletromiografia. Antes de falar sobre a questão em si, vamos entender alguns fatos. Em um mundo perfeito, tudo o que utilizamos representa apenas o fenômeno que se deseja analisar, deixando o que está ao redor “de fora”, sem ter importância, não é mesmo? A má notícia é que não vivemos em um mundo perfeito, e como já mencionei em outros posts, a toda conquista corresponde uma renúncia. Quando falamos em eletromiografia, não seria diferente.

A eletromiografia mede a atividade elétrica proveniente da musculatura, e isso é genial! É uma ferramenta poderosa no auxílio ao diagnóstico para ações do movimento humano. Porém, para conquistar esses importantes dados não podemos ignorar que nosso corpo sofre interferências. Para começar, vivemos por natureza em um grande campo magnético que é o planeta Terra, e de alguma maneira estamos naturalmente sendo influenciados por esse campo. Além disso, quando há diversos equipamentos elétricos ligados próximos a nós, produzindo suas funções, a questão se potencializa.

Acredito que muitos ainda se lembram dos rádios de comunicação da polícia, que trabalham em frequências específicas, e que de vez em quando recebem a invasão de outros rádios em sua frequência, o que atrapalha a comunicação. É isto o que chamamos de “interferência”. Por mais qualidade que se tenha no rádio, é sempre possível de acontecer.

Minimizar as interferências

Na eletromiografia, assim como nos rádios, existem frequências “programadas” dentro dos sensores de captação do sinal, que vão de 20Hz a 500Hz. Estas são as frequências de trabalho das fibras musculares. O problema é que no Brasil grande parte dos equipamentos eletrônicos também trabalham dentro dessa mesma frequência, e isso pode gerar interferências, com sinais que podem se confundir.

Existem muitos artifícios que podemos utilizar para minimizar esse problema, como o uso de filtros analógicos e digitais. Mas uma coisa é certa: não podemos mudar a frequência de trabalho dos músculos, e se colocarmos filtros em frequências que estão dentro dessa faixa de trabalho, estamos tirando informações importantes de nossa leitura, e isso não daria uma resposta correta dos acontecimentos.

Por isso, desconfiem quando algum fabricante diz que o sensor não capta interferência nenhuma, pois provavelmente o que está havendo é que o sinal está sendo altamente filtrado, a ponto de a informação não estar sendo passada em sua totalidade. Aprendam que a atividade elétrica muscular e a interferência andam juntas, mas com os devidos cuidados de preparo da pele e do ambiente elas podem ser minimizadas, o que irá permitir obter excelentes resultados, de forma correta e não mascarada.

Como eu já mencionei, não adianta termos a ilusão da perfeição, mas sim viver no mundo real, com suas adversidades, respeitando os limites e buscando o conhecimento para obter o sucesso. Por melhor que seja o sensor, ele não vai mudar a forma como funciona a eletromiografia. E mesmo com suas interferências, é uma ferramenta poderosa e incrível, e isto também é parte da realidade.

Este artigo traz informações e conhecimentos técnicos a todos os profissionais da saúde interessados em aliar tecnologia aos resultados de seus tratamentos. Deixe sua opinião nos comentários!





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